27 de abril de 2011

O DINAMISMO POLÍTICO

 

           Os primeiros meses da presidente Dilma Roussef trouxeram um forte indicativo   de continuar  a linha do seu antecessor, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, sem no entanto manter de forma  clara e consistente sua própria linha de independência, como bem sugeriu seu  posicionamento diante da política nuclear do Irã.
Sem entrar no tabuleiro da economia, terreno do qual  dificilmente podemos nos afastar, ainda mais com o fantasma da inflação batendo nas portas, é preciso voltar nossa atenção para as reformas políticas que o país, de há longas datas, necessita urgentemente e que o Congresso, pelas razões  mais óbvias, porém  incoerentes, deixou à mercê de forças ocultas que agem com persistência dentro do Congresso Nacional, e que, pelo que demonstram estar mais interessados em manter o atual estatus quo.
Um ano eleitoral de muita disputa em todo o país se aproxima, razão maior para constatar a necessidade mais do que urgente de colocar em prática leis como a tão discutida Lei da Ficha Limpa,  que responde a um clamor popular e que, infelizmente, só irá  vigorar a partir do pleito de 2012.
Até o fechamento desta Coluna o STF ainda não havia dado seu parecer final a respeito dos cargos dos suplentes, se estes serão dos partidos ou das coligações. Uma boa  briga que está valendo inúmeros processos na Justiça e que, de certa forma, respinga na tão falada e pouco praticada  fidelidade partidária.
Por incrível, há tanta coisa nebulosa para as próximas eleições que a cada dia  a situação se torna ainda mais complexa.
Não há dúvida de que o momento político mais intenso em qualquer  município do Brasil é justamente aquele quando ocorrem as  eleições  para prefeitos e vereadores. E quem duvidar pode prestar atenção, as articulações  partidárias  começaram a ser trabalhadas  já a partir da eleição anterior, e se acentuam a cada ano, sendo que  este ano já estão praticamente delineadas as correntes político-partidárias.
Nessa tessitura política não há como excluir aqueles que contra vento e tempestades são sempre candidatos, sabem que não têm  possibilidades, mas sempre arriscam uma pitadinha de sorte, um apoio inesperado, uma força  que venha lhes trazer novos horizontes, ou até mesmo a possibilidade de apoiar alguém de maior peso político.
Em questões dessa natureza muita gente pode falar de cadeira, até porque já são mais do que graduados em questões de candidatura.  Essas pessoas se pudessem ser candidatos individuais nunca deixariam de ser candidatos, mas como dependem de uma legenda, a coisa fica um tanto mais difícil, inobstante continuam  candidatos inveterados.
Por ora é prematuro indicar nomes, a política se move com um dinamismo intenso, de maneira que o bom senso recomenda aguardar, sentir o panorama que deve  começar a se delinear a cada dia com maior intensidade.

26 de abril de 2011

INCIDENTE EM SUZHOU

Componho as histórias das minhas viagens pelo mundo em relatos de  pequenas histórias dentro das histórias, e esta é uma das tantas que ocorreram na Ásia.

Quando os pneus do jato tocaram na pista do aeroporto Internacional de  Pequin (Beijing), estávamos no meio da manhã, pelo fuso-horário local, após quase 20 horas de exaustivo vôo.
Na chegada a comitiva brasileira   da qual fazia parte  embarcou num ônibus até um hotel no centro dessa imensa metrópole.
Depois de um bom banho, um merecido descanso e  uma rápida refeição à moda ocidental no hotel,  novamente estávamos percorrendo uma avenida com um enlouquecedor tráfego  de automóveis e todo tipo de outros veículos, triciclos motorizados e uma infinidade de chineses em bicicletas por todo lado.
Quando se chega à China tudo é novidade, as pessoas,  suas roupas típicas, e a extraordinária massa humana que se movimenta de bicicleta  --o meio mais comum de transporte--, é qualquer coisa de muito inusitado  num país que possui uma população de 1,2 bilhão de habitantes em 2011.
Depois de atravessar boa parte da cidade e percorrer uns 15 minutos de estrada chegamos a uma área montanhosa,  e começamos a  divisar, na ondulação das montanhas, a soberba construção da Grande Muralha da China, a maior obra que o homem já conseguiu construir em toda sua história e é considerada uma das 7º Maravilhas do mundo.

A  Muralha foi construída na China Imperial e começou a ser erguida por volta de 221 a.C. pelo imperador Qin Shihuang. Construída ao longo de dois mil anos, em várias dinastias, seus 7300 km de comprimento se  estendem do NE da China até a Mongólia, e na época servia para conter as constantes hordas invasoras dos povos do norte.

Depois das fotografias de praxe e já no final da tarde voltamos a Pequin. Tudo acontecia de forma muito rápida, intuímos que a visita às Muralhas não estivesse na programação, razão pela qual tudo começou a ser  feito praticamente a toque de caixa; nossa confusão era maior porque  não entendíamos uma sílaba sequer de mandarin, a língua padrão da China. No começo da noite, nos encontrávamos diante de  uma imensa estação ferroviária.
A estação é simplesmente monumental, porém, mais impressionante ainda  é  a multidão de pessoas que ali se movimenta; são ondas de gente que entram e saem por um sem número de portões;  perder-se do grupo  naquela enorme confusão humana seria desastroso, ainda mais  naquele momento em a que noite transformava as avenidas em vias cheias de estonteantes luzes coloridas.
O guia que falava  num português sofrível nos conduziu por dentro dessa multidão até perto de uma plataforma onde, segundo ele,  em 15 minutos chegaria a composição que nos levaria ao nosso destino.

Suzhou é um importante entroncamento ferroviário localizado na região sul  da província de Jiangsu. A cidade antiga nos remete ao ano 54 a.C. e até hoje, em grande parte conserva suas construções.

Nos minutos que nos restavam antes da chegada do trem saímos numa alucinada procura de algumas frutas ou outros alimentos, estávamos o dia todo praticamente  sem comer. A comitiva era formada de 15 pessoas, incluindo o chefe da delegação, o Conde Antonio Lampeduza Bruni, a Condessa e as quatro ciosas senhoras que se alternavam em sua guarda.

Tudo que víamos na estação era completamente desconhecido, e pior, num único dia ainda não tivemos tempo de aprender a lidar com o Yuan ou Kuai, a moeda oficial  chinesa e seus centavos, como o fen, o jiao, o qian e convertê-los em dólar,  Num pequeno balcaozinho vimos   algumas garrafinhas, umas  contendo qualquer coisa branca e outras  com algum líquido amarelo que a nossa fome nos fazia imaginar  como sendo leite e suco de laranja, mas que ao experimentar  sentimos o gosto de qualquer coisa  intragável.

A solução era tentar comer no restaurante do trem, pois  nos esperava uma longa noite de viagem até Suzhou, onde seríamos recebidos oficialmente pelas autoridades locais, como parte de um intercambio cultural e de interesses mútuos.

O trem parou na plataforma e rapidamente tomamos posição nos camarotes que tinham um beliche com duas camas, uma cadeira e um pequeno espaço  para acomodar nossas malas.
Os oito camarotes que nos foram reservados estavam num só vagão e todos davam para um estreito corredor em cuja extremidade fazia uma curva em S para contornar um pequeno cubículo que era o W.C., dali em diante  se passava para outro vagão onde estava o restaurante.
O trem começou a se deslocar lentamente e já fora da estação percebi que tudo lá fora estava coberto de branco, caía uma neve fina,  as ruas e os telhados das casas e os prédios  estavam cobertos de um belo branco uniforme.
Sentado na cama inferior do beliche, enquanto meu  companheiro roncava, imaginava a difícil noite que enfrentaríamos a partir daquele momento, foi quando entrou o interlocutor do grupo para anunciar que em uma hora nos encontraríamos no carro-restaurante.
Boa idéia! Ótima idéia!, festejamos.
Animado pela boa nova fiquei mais  um bom tempo admirando o panorama que se descortinava na passagem do trem. Aos poucos a imensa Pequin foi ficando distante, o trem passava por longos trechos  escuros até encontrar outra cidade onde parava apenas por alguns minutos e retomava a viagem.
A fome estava brava,  decidimos, então,  ir até o carro-restaurante.  No corredor, duas guardinhas, uniformizadas a caráter estavam sentadas em banquinhos como que a cuidar dos viajantes. Passamos por elas, cumprimentado-as com o movimento da cabeça; na curva  pedi ao meu companheiro para que fosse na frente enquanto  eu entraria  na toalete.

 Abri a porta do W.C.  e qual não foi minha surpresa, era apenas um pequeno quadrado, não tinha lavatório, nem papel higiênico e nem  vaso sanitário, em seu lugar  um buraco pelo qual se viam os dormentes passando por baixo do trem, e dois pesinhos de porcelana branca, um a cada lado do orifício, indicando a posição em que o usuário  deveria ficar.
Não acreditei no que via, um vento gelado entrava pelo buraco. Felizmente o homem não tem muita dificuldade para fazer xixi, e nem precisei ficar encima dos pesinhos, depois, saí apavorado!

No restaurante encontrei o  pessoal, menos o Conde, a Condessa e suas  assessoras. Logo comecei a descrever para todos como era a toalete, mas a maioria já havia passado por lá, o único que não conhecia o cubículo ainda era  meu companheiro que abriu uma larga gargalhada como que a não acreditar.

Minutos depois passou uma chinesinha empurrando um carrinho, com as mesmas garrafinhas que havíamos comprado  na estação de Beijing;  não havia nada que pudéssemos comer, estávamos condenados a passar fome até chegar em Suzhou.

 Julio, um companheiro de outras viagens ao redor do mundo sempre foi  muito precavido, acostumado que estava  às desventuras de algumas  viagens, por isso trazia sempre em sua mala um pedaço de salame e seu inseparável canivete. Aclamado por todos, rapidamente foi buscar essa salvação.
O Conde, sua esposa e seu séqüito, certamente tinham algumas reservas alimentícias que não queriam compartilhar com o grupo e nem apareceram no carro-restaurante até àquela hora, quase meia noite.
Enquanto aguardávamos ansiosamente a retorno de Júlio  tudo ia bem, porém, um detalhe chamou minha  atenção, comecei a notar que sumiram  os guardanapos de papel das mesas. Estranho demais!

A chegada de Julio foi  festejada e cada um  recebeu  uma fatia do salame cortada por ele mesmo  com muito esmero.
O  salame não matou a fome de ninguém, ao contrário,  aguçou mais a vontade de  comer  e ainda  aumentou a sede de todos. A situação estava ficando difícil, e nos retiramos para tentar descansar.
No camarote comentei com meu companheiro que  lá pelas duas horas da madrugada  iria até o banheiro, pelo menos nesse horário não teria ninguém. Ele, por sua vez estava tranqüilo pois  ainda na estação de Pequin encontrou uma toalete de verdade.. Dei  uma cochilada, até a hora que considerei que todo mundo já dormia e decidi ir ao   banheiro.
Tirei os sapatos e fiquei de meias para não fazer barulho, rasguei duas folhas de uma revista que pegara em Pequin e abri devagar a porta do camarote,  olhei para um e para outro lado, tudo calmo, as guardinhas em seus banquinhos pareciam dormir, a neve lá fora continuava a cair  e, exatamente como a pantera cor de rosa, comecei a caminhar  em direção àquele cubículo com o buraco no chão que servia de banheiro, e agora sem  mais alternativa, teria que usar os pesinhos.
Como um gato atrás de sua presa cuidadosamente  fui em direção à extremidade do vagão, não queria acordar ninguém, seria muito desagradável encontrar alguém esperando na porta quando fosse sair  desse único e primitivo banheiro. Passei por uma das guardinhas, eu não sabia se estava acordada ou dormindo, seus olhos eram dois traços apenas em meio a uma cara redonda.
Continuei,  já me aproximava  da curva à esquerda, ali não havia mais camarotes,  depois era só outra  curva à direta e, finalmente, me aliviaria, mesmo com o tufo de vento gelado que sopraria  pelo buraco.
Faltavam dois passos para chegar à curva. Dei o primeiro e, quando acabei de esticar a perna para o  segundo passo, qual não foi a minha surpresa, estava quase  todo o grupo enfileirado  lá!
Todo mundo tinha pensado igual, e todo mundo se achou lá; o jeito foi fazer fila, ai compreendi por que haviam desaparecido os guardanapos do carro-restaurante.
Quis ainda  recuar, mas todos me viram e em coro gritaram: fila...fila...fila!
Para não perder o fio da meada, fiz um positivo com o dedo, e com naturalidade perguntei  quem estava lá dentro?
Nem precisou de resposta, nesse momento vi que duas assessoras da Condessa  estavam postadas, uma a cada lado da porta do  banheiro.
Lembrei, então, que na vida, independente das vaidades, do poder e da riqueza, há coisas que tanto o rei como  o vassalo tem que fazer identicamente, são as  inadiáveis funções fisiológicas,   a diferença pode ficar por conta do luxo do local, mas há situações como esta em que todos são  igualados por baixo; por acaso naquele momento a nobreza não  estaria acocorada sobre os pesinhos tomando aquela fria golfada  de ar que vinha lá de fora!
Nessa hora não há vaidade, riqueza ou poder  que resista!

15 de abril de 2011

CONTENÇÃO DE GASTOS

Com o crescimento brasileiro estimado para este ano em torno de 4.5 %, reflexo da crise mundial, e o corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União, há necessidade da adoção de medidas em sentido de restringir gastos, não só para compensar os cortes do governo nos repasses aos estados e municípios, como  na necessidade de adequar os gastos aos limites permitidos legalmente.
Essa foi a pauta do prefeito Emidio de Souza na coletiva de  imprensa que convocou nesta quarta-feira.
Pela exposição do chefe do executivo, é preciso observar com rigidez, como aliás   vem fazendo,  a  Lei de Responsabilidade Fiscal, e ainda vislumbrando  que 2012 será um ano difícil, e em sendo o último do seu mandato, pretende deixar caixa na prefeitura  para  facilitar a vida do seu sucessor,  que assim não terá  que iniciar uma gestão complicada como foi a dele, quando recebeu  do seu antecessor  um caixa praticamente zerado e o município com uma dívida milionária de nada menos que um bilhão de reais. 
O prefeito Emidio ressaltou que prefere fazer alguns cortes nos gastos da administração para evitar medidas mais drásticas como a dispensa de pessoal, que aliás, com a criação de novas secretarias e junção de algumas, precisam de mais funcionários.
Os cortes que serão, da ordem  de 20 a 30% e incidirão  sobre o uso de telefones celulares e até mesmo fixos que segundo o prefeito chegaram a valores muito elevados, também  sobre o combustível utilizado pelos veículos da administração, principalmente pela nova frota de 80 veículos, comprados justamente para evitar a locação de veículos e a manutenção contínua.
Da mesma maneira o prefeito salientou que nenhum veículo oficial será utilizado fora de serviço, e que todos serão recolhidos no final do expediente ao pátio da prefeitura, “eu mesmo uso meu próprio veículo”, ressaltou Emidio.
Os serviços de emergência, ambulâncias, Guarda Municipal,  Defesa Civil e outros serviços considerados essenciais, não sofrerão nenhuma restrição de abastecimento.
Haverá também um estudo para reaproveitar melhor os próprios municipais, diminuindo sempre que possível os imóveis locados.
Todas as medidas anunciadas deverão poupar ao erário  algo em torno de R$ 5 milhões por ano, recursos que deverão ser direcionados nas áreas de maior necessidade.
O prefeito Emidio também ordenou que sejam otimizadas as viagens a serviço,  diminuindo assim as despesas nessa área. Determinou, finalmente,  economia no uso de energia elétrica.
Quanto aos servidores,  Emidio reafirmou que para evitar demissões preferiu optar pelo corte de 30% das horas extras.
Na realidade se trata da contenção de despesas que não prejudicam o normal desempenho da administração municipal, e de forma muito sensata, promove a economia de cinco milhões de reais que terão um direcionamento para as áreas que o município mais necessita.


8 de abril de 2011

MASSACRE EM REALENGO

O Brasil amanheceu nesta quinta-feira, dia 7 de abril de 2011, com uma notícia arrepiante, um  jovem de 23 anos invadiu uma escola, onde já foi aluno, e armado com dois revólveres disparou a sangue frio nos alunos da segunda série, matando dez meninas e dois meninos, todos com idades entre 13 e 14 anos. O massacre também deixou outro tanto de feridos, alguns ainda em estado grave.
Pelas informações recebidas, ao que parece o assassinato em massa não foi maior porque um PM, que se encontrava nas proximidades, alertado por uma criança que escapou apavorada da escola, conseguiu chegar a tempo de atirar no assassino que caiu ferido na escada, mas logo a seguir atirou em si próprio. Seu corpo ficou por horas na escada que levava ao segundo andar.
Todo este macabro espetáculo aconteceu na escola Tasso da Silveira, em Realengo, subúrbio Carioca.
A notícia começou a circular pelo mundo imediatamente e foi destaque em jornais e Tv’s de todo o planeta reeditando acontecimentos similares nos  Estados Unidos da América do Norte, na Europa e até no Japão.
No caso presente, pela descrição que fazem do assassino as pessoas que com ele conviveram, tratava-se de uma pessoa solitária e soturna, que apenas se nutria de tudo que a Internet podia lhe oferecer. Seus dias eram monótonos, de dia trabalhar e à noite,  até altas horas,  navegar pela Internet, não tinha amigos, era extremamente calado.
Por outra parte, o retrospecto de sua vida  também não é dos melhores, sua mãe biológica já  demonstrava sinais de insanidade mental, tanto que tentou diversas vezes contra a própria vida, mas que também abandonou o filho logo nos primeiros anos de vida e teve que ser  criado por uma parente que faleceu há pouco mais de dois anos.
Não é preciso ser um douto em psicologia para entender que este é um caso típico  de distúrbio mental, pois estão mais do que evidenciados os desvios éticos, morais e comportamentais do rapaz que,  por falta de orientação e acompanhamento, se tornaram muito maiores  em sua mente a ponto de levar adiante uma ação dessa dimensão. Claro e evidente que seja qual for a doença que o atinja, nada, absolutamente nada, justifica um assassinato como ele praticou, aliás, assassinato algum se justifica, pois o homem não tem o poder de tirar a vida de outrem, a vida é uma dádiva divina e só a Deus cabe dispor da mesma.
O infeliz acontecimento que abalou todo o Brasil, nos reporta a casos anteriores como o do estudante de medicina que num cinema  de shopping metralhou várias pessoas, ou do crime passional praticado por outro maluco que seqüestrou e matou a namorada num conjunto de apartamentos populares em   Santo André.
Nestes dois últimos casos, os assassinos estão presos, certamente cumprirão suas penas e provavelmente serão soltos, se de bom comportamento, mas, será que essa é e melhor maneira de tentar reinserí-los à sociedade?
É muito difícil acreditar que um ser humano que  cometeu tamanha barbárie possa, como se nada tivesse acontecido, mesmo trinta anos depois, voltar tranqüilo ao convívio da sociedade; e sua consciência como fica, essa não tem progressão de pena!
Muitas vezes, quando falamos da Internet como um fabuloso meio de intercomunicação mundial,  esquecemos de certa maneira que essa maravilha desenvolvida pelo homem, também é mal aproveitada por outros, tornando-se inquestionável a limitação do seu uso, e isso não é cercear a liberdade de ninguém. No caso do Realengo, o assassino pôs na cabeça toda essa maquiavélica estratégia tomando aula na Internet, mais especificamente nos casos que aconteceram principalmente nos Estados Unidos.
Muito se fala em Internet,  mas pouco se cuida desses detalhes, dessas limitações, pois tanto a Internet como a TV são escolas para as crianças e adolescentes, e está mais do que na hora de que se estabeleça um limite para tudo aquilo que hoje indiscriminadamente  se coloca ao alcance  dos jovens e das crianças, como já se faz, há bom tempo, por exemplo, na China.

6 de abril de 2011

O MISTÉRIO DO VÔO AF 447

Naquela noite, o Airbus rasgava o céu a dez mil metros de altitude e a 1020 km por hora.
Havia duas horas Paris ficara para trás em meio a uma insistente garoa, e nesse momento os quase 250 passageiros que embarcamos no suntuoso Charles de Gaulle, já nos preparávamos para o jantar.
Na telinha à frente das nossas  poltronas um programa que ilustra um mapa do continente e  o ponto de onde o avião levantou vôo, a distância já voada, o rumo, a velocidade, a temperatura externa, o tempo e a hora local da chegada na  cidade de destino.
E nosso destino era Pequín  (Beijing) a  capital da China. Uma verificação de nossa localização naquele momento nos indicava que passávamos   ao sul da Escandinávia, em direção leste.
O jantar foi servido, um lanche mais avolumado, digamos, consumimo-lo muito mais rápido que o tempo que os comissários de bordo gastaram para distribuir as bandejinhas pelos corredores.
Uma segunda rodada de sucos, vinho e cerveja, e a maioria dos passageiros começou a reclinar o encosto das poltronas para ganhar um pouco mais de espaço e tentar descansar.
Quase uma hora e meia de vôo, agora deixávamos de lado Moscou, o que queria dizer que estávamos voando sobre as estepes geladas da Rússia, onde a essa hora da madrugada  a temperatura deveria estar por volta dos 50 graus negativos.  Pela janela não dava para ver absolutamente nada, a noite era muito negra, a única luz que brilhava era a da ponta da asa que piscava  intermitente.
O que se pode fazer numa emergência num momento desses? Absolutamente nada, além de imaginar que estávamos entregues à vontade de Deus.
Num vôo desses difícil é conseguir pensar em qualquer coisa! Este relato serve para ilustrar a impotência dos 228 passageiros do Airbus A33, que fazia o vôo AF 447, entre o Rio de Janeiro e Paris na noite de 31 de maio de 2009 , mas que nunca chegaria ao seu destino.
O resto da história todos já conhecemos, depois de fazer uma flexão a leste, à altura de Natal, a aeronave  alinhou sua proa em direção a Dakar no Senegal, passou enfrente a Fernando de Noronha, e depois desapareceu sem deixar mais qualquer vestígio, aparentemente voando dentro de grande área de turbulência.
Esta semana o BEA, Escritório de Investigação e Análise, divulgou que numa quarta tentativa conseguiram localizar destroços do Airbus.
Algumas fotos do local onde estão partes da aeronave já foram divulgadas e se encontram numa fossa abissal de quase quatro mil  metros de profundidade.
Além do trem de pouso dianteiro,  informaram ter localizado a cabine de comando, e dentro dela ainda alguns corpos.
Quase dois anos depois, os corpos que serão resgatados do local certamente não terão mais como serem identificados a não ser por características próprias e principalmente pela análise do DNA.
As caixas pretas ainda não foram localizadas, os submarinos automatizados fazem uma varredura geral, a esperança é que ainda possam ser encontradas, em condição de análise os registros das caixas pretas contendo  os últimos minutos do vôo e as vozes dos pilotos.
Dentre os 228 passageiros, não houve sobreviventes, 80 eram brasileiros.

1 de abril de 2011

DOS PAPIROS AO E-BOOK

Uma das questões que os tempos atuais nos impõem   é  da aparente transferência  do texto escrito no papel ou em qualquer  outra base, para os sistemas eletrônicos
Vamos permitir-nos alguns devaneios. Afinal, o que é um livro? O que são os escritos, em papiros, em couro, em papel,  tudo aquilo que existe ao alcance de nossas mãos e  de nossa visão e que de forma indelével encerram em suas linhas, em suas expressões, conhecimentos incalculáveis registrados cuidadosamente ao longo de séculos e milênios, desde quando o ser humano se encontrou em condições de escrever.
A evolução de lá para esta parte foi espantosa, mas nunca o que foi feito em outros tempos, ainda que mais recentes,  deixa de  nos emocionar, pois a emoção está também no fato de apalpar as obras, suas páginas, e  isto,  aliado ao texto, nos dá a cabal idéia de toda a odisséia  percorrida pelo espírito humano.
Lendo um dos textos mais recentes de Umberto Eco, retiramos uma frase muito adequada ao tema, diz ele:  “ O livro (em papel) é necessariamente o símbolo dos progressos com que tentamos fazer esquecer as trevas das quais continuamos a acreditar que agora saímos”.
Na realidade, do papiro até o processo eletrônico, um intervalo de mais de 5000 anos,  o livro que gradativamente foi sendo  impresso é o legado mais  fiel da mente humana.
Questionando sobre o desaparecimento do livro em função do e-book, e similares, está muito claro entender que o livro não deverá ser substituído como principal suporte de leitura por  qualquer outro processo eletrônico.
Não está longe o tempo em que se acreditava na total  decadência do cinema pelo aparecimento da TV, pelo vídeo. Mas não desapareceu, existem salas e salas de cinema, menos salas pelas cidades, é bem verdade, (alugá-las às igrejas evangélicas é mais rentável), porém o cinema nunca vai desaparecer, até por uma questão de qualidade natural da imagem e do som, insuperáveis.
Naturalmente que os processos eletrônicos  trazem um certo conforto, claro que um magistrado terá maior facilidade para examinar processos em casa, caso estes estejam num e-book, por exemplo, poupando-lhe o tempo que gastaria  no transporte e manuseio dos horrorosos processos que entopem as prateleiras dos fóruns. Mas, isso também tem um custo, duas horas ou mais pregado na telinha, e os olhos do magistrado parecerão duas bolas vermelhas.
O cinema, diferentemente de qualquer outro meio, causa prazer, não é,  por exemplo, como  as TVS por Internet, hoje muito em voga, em que o espectador para assistir  qualquer coisa mal feita, e muito amadora, diretamente de um cubículo, precisa gastar seu dinheiro para pagar sua Internet!  Cinema dá gosto assistir, não morreu e não vai morrer.
O livro é, então, de longe,  o maior suporte de leitura, o legado do espírito humano ao longo dos tempos que continuará a ter importância até pela acessibilidade. Nem todo mundo, aqui ou na Amazônia, terá a mesma facilidade de portar um e-book,  o livro tanto cá como lá  está à mão.
Evidente que é sempre bom  o aprimoramento de novos suportes adaptados às necessidades e ao conforto de uma leitura ágil, de uma consulta preordenada; e vamos ficar na expectativa de novos rumos nessa intensa caminhada tecnológica, especialmente como ferramentas importantes para , por exemplo,imprimir uma agilidade de verdade ao Judiciário.