1 de abril de 2011

DOS PAPIROS AO E-BOOK

Uma das questões que os tempos atuais nos impõem   é  da aparente transferência  do texto escrito no papel ou em qualquer  outra base, para os sistemas eletrônicos
Vamos permitir-nos alguns devaneios. Afinal, o que é um livro? O que são os escritos, em papiros, em couro, em papel,  tudo aquilo que existe ao alcance de nossas mãos e  de nossa visão e que de forma indelével encerram em suas linhas, em suas expressões, conhecimentos incalculáveis registrados cuidadosamente ao longo de séculos e milênios, desde quando o ser humano se encontrou em condições de escrever.
A evolução de lá para esta parte foi espantosa, mas nunca o que foi feito em outros tempos, ainda que mais recentes,  deixa de  nos emocionar, pois a emoção está também no fato de apalpar as obras, suas páginas, e  isto,  aliado ao texto, nos dá a cabal idéia de toda a odisséia  percorrida pelo espírito humano.
Lendo um dos textos mais recentes de Umberto Eco, retiramos uma frase muito adequada ao tema, diz ele:  “ O livro (em papel) é necessariamente o símbolo dos progressos com que tentamos fazer esquecer as trevas das quais continuamos a acreditar que agora saímos”.
Na realidade, do papiro até o processo eletrônico, um intervalo de mais de 5000 anos,  o livro que gradativamente foi sendo  impresso é o legado mais  fiel da mente humana.
Questionando sobre o desaparecimento do livro em função do e-book, e similares, está muito claro entender que o livro não deverá ser substituído como principal suporte de leitura por  qualquer outro processo eletrônico.
Não está longe o tempo em que se acreditava na total  decadência do cinema pelo aparecimento da TV, pelo vídeo. Mas não desapareceu, existem salas e salas de cinema, menos salas pelas cidades, é bem verdade, (alugá-las às igrejas evangélicas é mais rentável), porém o cinema nunca vai desaparecer, até por uma questão de qualidade natural da imagem e do som, insuperáveis.
Naturalmente que os processos eletrônicos  trazem um certo conforto, claro que um magistrado terá maior facilidade para examinar processos em casa, caso estes estejam num e-book, por exemplo, poupando-lhe o tempo que gastaria  no transporte e manuseio dos horrorosos processos que entopem as prateleiras dos fóruns. Mas, isso também tem um custo, duas horas ou mais pregado na telinha, e os olhos do magistrado parecerão duas bolas vermelhas.
O cinema, diferentemente de qualquer outro meio, causa prazer, não é,  por exemplo, como  as TVS por Internet, hoje muito em voga, em que o espectador para assistir  qualquer coisa mal feita, e muito amadora, diretamente de um cubículo, precisa gastar seu dinheiro para pagar sua Internet!  Cinema dá gosto assistir, não morreu e não vai morrer.
O livro é, então, de longe,  o maior suporte de leitura, o legado do espírito humano ao longo dos tempos que continuará a ter importância até pela acessibilidade. Nem todo mundo, aqui ou na Amazônia, terá a mesma facilidade de portar um e-book,  o livro tanto cá como lá  está à mão.
Evidente que é sempre bom  o aprimoramento de novos suportes adaptados às necessidades e ao conforto de uma leitura ágil, de uma consulta preordenada; e vamos ficar na expectativa de novos rumos nessa intensa caminhada tecnológica, especialmente como ferramentas importantes para , por exemplo,imprimir uma agilidade de verdade ao Judiciário.

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