6 de abril de 2011

O MISTÉRIO DO VÔO AF 447

Naquela noite, o Airbus rasgava o céu a dez mil metros de altitude e a 1020 km por hora.
Havia duas horas Paris ficara para trás em meio a uma insistente garoa, e nesse momento os quase 250 passageiros que embarcamos no suntuoso Charles de Gaulle, já nos preparávamos para o jantar.
Na telinha à frente das nossas  poltronas um programa que ilustra um mapa do continente e  o ponto de onde o avião levantou vôo, a distância já voada, o rumo, a velocidade, a temperatura externa, o tempo e a hora local da chegada na  cidade de destino.
E nosso destino era Pequín  (Beijing) a  capital da China. Uma verificação de nossa localização naquele momento nos indicava que passávamos   ao sul da Escandinávia, em direção leste.
O jantar foi servido, um lanche mais avolumado, digamos, consumimo-lo muito mais rápido que o tempo que os comissários de bordo gastaram para distribuir as bandejinhas pelos corredores.
Uma segunda rodada de sucos, vinho e cerveja, e a maioria dos passageiros começou a reclinar o encosto das poltronas para ganhar um pouco mais de espaço e tentar descansar.
Quase uma hora e meia de vôo, agora deixávamos de lado Moscou, o que queria dizer que estávamos voando sobre as estepes geladas da Rússia, onde a essa hora da madrugada  a temperatura deveria estar por volta dos 50 graus negativos.  Pela janela não dava para ver absolutamente nada, a noite era muito negra, a única luz que brilhava era a da ponta da asa que piscava  intermitente.
O que se pode fazer numa emergência num momento desses? Absolutamente nada, além de imaginar que estávamos entregues à vontade de Deus.
Num vôo desses difícil é conseguir pensar em qualquer coisa! Este relato serve para ilustrar a impotência dos 228 passageiros do Airbus A33, que fazia o vôo AF 447, entre o Rio de Janeiro e Paris na noite de 31 de maio de 2009 , mas que nunca chegaria ao seu destino.
O resto da história todos já conhecemos, depois de fazer uma flexão a leste, à altura de Natal, a aeronave  alinhou sua proa em direção a Dakar no Senegal, passou enfrente a Fernando de Noronha, e depois desapareceu sem deixar mais qualquer vestígio, aparentemente voando dentro de grande área de turbulência.
Esta semana o BEA, Escritório de Investigação e Análise, divulgou que numa quarta tentativa conseguiram localizar destroços do Airbus.
Algumas fotos do local onde estão partes da aeronave já foram divulgadas e se encontram numa fossa abissal de quase quatro mil  metros de profundidade.
Além do trem de pouso dianteiro,  informaram ter localizado a cabine de comando, e dentro dela ainda alguns corpos.
Quase dois anos depois, os corpos que serão resgatados do local certamente não terão mais como serem identificados a não ser por características próprias e principalmente pela análise do DNA.
As caixas pretas ainda não foram localizadas, os submarinos automatizados fazem uma varredura geral, a esperança é que ainda possam ser encontradas, em condição de análise os registros das caixas pretas contendo  os últimos minutos do vôo e as vozes dos pilotos.
Dentre os 228 passageiros, não houve sobreviventes, 80 eram brasileiros.

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