Finalmente nos encontrávamos na
parte mais baixa do centro-oeste da Serra dos Pacaás Novos, ao sul oeste do
atual Estado da Rondônia, em plena Selva
amazônica.
Depois do susto que nos deu o Moco,
selecionamos os homens mais habilidosos em escalar montanhas, e assim tentar subir a portentosa Serra dos Pacaás
Novos, que tanto havíamos buscado nos últimos dias.
Conseguimos chegar numa plataforma na parte inferior daquela
magnífica Serra que se perdia aos nossos olhos.
O que se podia notar nessa imensa serra
de arenito sedimento/metamorfizado, é que,
certamente, , no mínimo, a idade dessas pedras, era pouco mais nova que o
planeta.
Como a face Norte da serra estava muito desgastada, grandes placas devem ter
caído sobre o córrego Rocego, deixando aparecer uma série de plataformas em cada nível estratificado, de maneira que
por elas poderíamos escalar a serra com um pouco mais de facilidade.
E começamos a escalada. As
primeiras plataformas foram trilhadas sem nenhum problema, pois tinham uma
superfície áspera e quase horizontal. Subimos todos esses "degraus"
sem nenhum problema.
As dificuldades apareceriam depois,
na parte mais elevada, acima da metade desse
lado da serra, pois enquanto que os degraus baixos eram fáceis de subir, os que
estavam altos ficaram com suas
superfícies lisas, inclinadas para fora e muito distantes umas das outras, de maneira que nos obrigaram a ser verdadeiros
equilibristas para poder subir nesses"degraus
naturais".
Finalmente chegamos ao topo daquele
segmento. Era uma visão privilegiada, na verdade, a serra se elevava por cima
das árvores mais altas da floresta, o céu azul-anil, contrastava com a mais
densa selva do planeta, que mais se parecia a um tapete verde até se perder no
horizonte.
A serra, por sua vez, sumia na distância, abrindo espaço para divagações da origem de
uma das maiores cadeias de montanhas do sul da Amazônia. Num grande canyon, adiante, podíamos ver, até a exaustão, a água brotando
do chão, e lá, estava a fonte do Córrego Rocego.
A vista da selva era privilegiada, e certamente, poucas pessoas
puderam ver essa maravilha criada por Deus. Nesse aspecto, fomos nós privilegiados pela Divina
Providência, porque nossos olhos puderam ver o que a grande maioria dos homens
não tem nunca a possibilidade de ver.
O ruído do vento passando nas
estruturas do topo dessa parte da serra nos lembraram bastante Cape Town,
a bela cidade na África do Sul que fica entre a serra e o mar bem na
curva do Continente e onde o vento é tão forte que empurra a pessoa com muita
violência, é lá que se juntam os oceanos Atlântico e o Índico, e, onde se deve
tomar todos os cuidados com os Babuínos que roubam, além de sorvetes, tudo que
brilha, como máquinas fotográficas, por exemplo, para depois, num galho de árvore
bem alta, giram a câmera como se quisessem
entender seu funcionamento.
Nos veio à mente, por ser também
parecida, toda a grandeza da visão da
soberba montanha de Massada, no meio do
deserto, perto do Mar Morto em Israel e na divisa com a Jordânia.
O ruído de um forte trovão nos
abstraiu dessa rememoração e nos trouxe
à realidade, já era pouco mais do meio da tarde, de forma que tínhamos que
descer bem de pressa e depois seguir para o Acampamento 2, lá descansar e
seguir andando e, pesquisando minério, até o campo de pouso.
Fizemos as tomadas principais de
atitude tais como a direção geral da
montanha nesse local, bem como da
atitude das camadas que a formam. Descer
é sempre mais fácil que subir, e assim descemos rapidamente, sempre em
fila índia.
Lá pela metade da serra fomos
colhidos por forte chuva, que nos obrigou a parar até a água diminuir. Essa parada, por óbvio, nos atrasou sobremaneira, e quando chegamos junto aos outros membros da
equipe, que ficaram embaixo, já era quase de noite.
Como havia chovido muito desde a véspera, o
varadouro ficara muito escorregadio e
perigoso, além disso a noite chegava
rapidamente, de maneira que era melhor voltar pelo meio do córrego, era mais seguro,
qualquer acidente, naquele local e ainda mais àquela hora, seria uma tragédia.
Em pouco tempo, a noite nos surpreendeu andando pelo leito do córrego,
andávamos muito rápido, quase correndo, não tínhamos ideia de quanto ainda faltaria para
chegar ao acampamento 2. Ao contrário de nossas previsões, a chuva aumentou e em pouco tempo caía forte,
junto com a mais completa escuridão. O jeito era apertar o passo para chegar ao
acampamento o mais rápido possível.
Foi nesse momento que a água do
leito do córrego aumentou tanto que nos pegou desprevenidos. Bati a cabeça num grosso tronco, atravessado no leito do córrego,
a batida foi tão violenta que me fez perder a mochila e logo depois, quase sem
fôlego, caí num enorme buraco cheio
d'água, onde mergulhei, e quando estava saindo, com os pulmões quase explodindo, a
ponta de um grosso tronco e árvore me empurrou de novo para baixo, depois subi
quase que desmaiando por falta de oxigênio.
Quando finalmente cheguei à
superfície, verifiquei que estava sozinho. Foi nesse momento que uma grossa onda de água que me jogou no
alto de um barranco. Nele me agarrei do que achei no meu desespero, me segurei firme
do que achei na escuridão, como plantas e raízes. Percebi, então, que havia perdido uma das botas, estava com a
cabeça toda ensangüentada e o rosto
inchado.
A situação era crítica, ainda mais pela escuridão. O jeito, então, era
ficar lá segurando as raízes do
barranco, até a água baixar e o dia clarear.
HUGOALBERTO CUÉLLAR URIZAR
É Cineasta, Jornalista e
escritor, é diretor técnico
da Produtora Sudameris em
Osasco-SP
sudamerisosasco@hotmail.com