10 de setembro de 2013

Eletrizante 4



          Finalmente nos encontrávamos na parte  mais baixa do centro-oeste  da Serra dos Pacaás Novos, ao sul oeste do atual Estado da Rondônia, em plena  Selva amazônica.

           Depois do susto que nos deu o Moco, selecionamos os homens mais habilidosos em escalar montanhas, e assim  tentar subir a portentosa Serra dos Pacaás Novos, que tanto havíamos buscado nos últimos dias.

        Conseguimos chegar  numa plataforma na parte inferior daquela magnífica Serra que se perdia aos nossos olhos.

           O que se podia notar nessa imensa serra de arenito sedimento/metamorfizado, é  que, certamente, , no mínimo, a idade dessas pedras, era pouco mais nova que o planeta.

         Como a face Norte da serra estava   muito desgastada, grandes placas devem ter caído sobre o córrego Rocego, deixando aparecer uma série de plataformas  em cada nível estratificado, de maneira que por elas poderíamos escalar a serra com um pouco mais de facilidade.

       E começamos a escalada. As primeiras plataformas foram trilhadas sem nenhum problema, pois tinham uma superfície áspera e quase horizontal. Subimos todos esses "degraus" sem nenhum  problema.

        As dificuldades apareceriam depois, na parte mais elevada, acima da metade  desse lado da serra, pois enquanto que os  degraus baixos eram fáceis de subir, os que estavam altos ficaram  com suas superfícies lisas, inclinadas para fora e muito  distantes umas das outras,  de maneira que nos obrigaram a ser verdadeiros  equilibristas para poder subir nesses"degraus naturais".

     Finalmente chegamos ao topo daquele segmento. Era uma visão privilegiada, na verdade, a serra se elevava por cima das árvores mais altas da floresta, o céu azul-anil, contrastava com a mais densa selva do planeta, que  mais  se parecia a um tapete verde até se perder no horizonte.

      A serra,  por sua vez, sumia na distância,  abrindo espaço para divagações da origem de uma das maiores cadeias de montanhas do sul da Amazônia. Num grande canyon,  adiante,  podíamos ver, até a exaustão, a água brotando do chão, e lá, estava a fonte do Córrego Rocego.

         A vista da selva  era privilegiada, e certamente, poucas pessoas puderam ver essa maravilha criada por Deus. Nesse aspecto,  fomos nós privilegiados pela Divina Providência, porque nossos olhos puderam ver o que a grande maioria dos homens não tem nunca a possibilidade de ver.

        O ruído do vento passando nas estruturas do topo dessa parte da serra nos lembraram bastante  Cape Town, a bela cidade na África do Sul que fica entre a serra e o mar bem na curva do Continente e onde o vento é tão forte que empurra a pessoa com muita violência, é lá que se juntam os oceanos Atlântico e o Índico, e, onde se deve tomar todos os cuidados com os Babuínos que roubam, além de sorvetes, tudo que brilha, como máquinas fotográficas, por exemplo, para depois, num galho de árvore bem alta, giram a  câmera como se quisessem entender seu funcionamento.

           Nos veio à mente, por ser também parecida,  toda a grandeza da visão da soberba montanha  de Massada, no meio do deserto, perto do Mar Morto em Israel e na divisa com  a Jordânia.

      O ruído de um forte trovão nos abstraiu dessa rememoração e nos  trouxe à realidade, já era pouco mais do meio da tarde, de forma que tínhamos que descer bem de pressa e depois seguir para o Acampamento 2, lá descansar e seguir andando e, pesquisando minério, até o campo de pouso.

          Fizemos as tomadas principais de atitude tais  como a direção geral da montanha nesse local,  bem como da atitude das camadas que a formam. Descer  é sempre mais fácil que subir, e assim descemos rapidamente, sempre em fila índia.

        Lá pela metade da serra fomos colhidos por forte chuva, que nos obrigou a parar  até a água diminuir. Essa parada, por óbvio,  nos atrasou sobremaneira,  e quando chegamos junto aos outros membros da equipe, que ficaram embaixo, já era quase de noite.

      Como  havia chovido muito desde a véspera, o varadouro ficara muito escorregadio e  perigoso, além disso a noite chegava  rapidamente, de maneira que era melhor voltar  pelo meio do córrego, era mais seguro, qualquer acidente, naquele local e ainda mais àquela hora, seria uma tragédia. Em pouco tempo, a noite nos surpreendeu andando pelo leito do córrego, andávamos muito rápido, quase correndo, não tínhamos ideia de quanto ainda  faltaria  para  chegar ao acampamento 2. Ao contrário de nossas previsões,  a chuva aumentou e em pouco tempo caía forte, junto com a mais completa escuridão. O jeito era apertar o passo para chegar ao acampamento o mais rápido possível. 

        Foi nesse momento que a água do leito do córrego aumentou tanto que nos pegou  desprevenidos. Bati a cabeça num  grosso tronco, atravessado no leito do córrego, a batida foi tão violenta que me fez perder a mochila e logo depois, quase sem fôlego, caí  num enorme buraco cheio d'água, onde mergulhei, e quando estava  saindo, com os pulmões quase explodindo, a ponta de um grosso tronco e árvore me empurrou de novo para baixo, depois subi quase que desmaiando por falta de oxigênio.

         Quando finalmente cheguei à superfície, verifiquei que estava sozinho. Foi nesse momento  que uma grossa onda de água que me jogou no alto de um barranco. Nele me agarrei do que achei no meu desespero, me segurei firme do que achei  na escuridão,  como plantas e raízes. Percebi, então,  que havia perdido uma das botas, estava com a cabeça toda ensangüentada e o rosto  inchado.

       A situação era crítica,  ainda mais pela escuridão. O jeito, então, era ficar lá segurando  as raízes do barranco, até a água baixar e o dia clarear.




HUGOALBERTO CUÉLLAR URIZAR

É Cineasta, Jornalista e escritor, é diretor técnico
da Produtora Sudameris em Osasco-SP
sudamerisosasco@hotmail.com
 

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