18 de agosto de 2013

ELETRIZANTE - Parte 2



          Depois  do grande susto que nos deu a  cobra da espécie Surucucú, que se interpôs em nosso caminho, seguimos pelo varadouro, subindo e descendo morros, até que começamos a ouvir as vozes de homens e risadas, o que em outras palavras significava que estávamos chegando no acampamento 2.

             Na verdade o acampamento 2, nada mais era do que um grande descampado na mata, à margem do córrego Rocêgo, tributário do Belo Horizonte

           Assim que chegamos foi um grande alvoroço humano, abraços e boas vindas. O cozinheiro, Chico, era um maranhense  todo desdentado, que nos recebeu com um cafezinho quente e recém passado. A cozinha dele estava formada por três grandes pedras que serviam de base para as panelas, e o fogo  era feito com lenha fina, que o cozinheiro havia buscado cuidadosamente, na mata.

             Ao lado da cozinha, um tapiri feito de madeira roliça e coberta com palhas, protegia uma mesa feita de pachuba, uma espécie de palmeira muito própria da mata amazônica. Nessa mesa improvisada foi colocado o pão que acabara de chegar, além de panelas, e outros utensílios de cozinha, que lá estavam viradas para baixo.

           Foi nesse momento que vários homens fizeram grande barulho num poço do Córrego, localizado um pouco abaixo do acampamento. Era um banho comum, um jogava água no outro e vice-versa, de forma que o barulho deles era grande.

             A tarde caía rapidamente, de repente, surgiu do mato, espingarda nas costas, o João Cruz, que trazia numa das maõs um Mutun que acabara de abater. O Mutun é um galo grande, com crista igual à de um galo, de cor preta e vermelha.  Foi uma festa da equipe toda,  40 homens  festejaram a caça, pois na verdade, a comida, de pelo menos para uma parte da equipe estava garantida com carne fresca.

           Na hora do jantar, antes da noite cair, foram servidos  pratos contendo uma generosa porção de carne assada de Mutún, para os chefes, e carne de macaco para o resto da equipe.

           Como no dia seguinte começaríamos cedo nossa caminhada,  todo mundo  lavou o seu prato e procurou o lugar de sua rede de dormir. Como de hábito, no meio do acampamento uma fogueira foi acessa, para afastar eventuais onças e outros animais da selva que pudessem atacar  à noite.

           Depois da meia noite, todos ficaram em silêncio e dormiram profundamente, enquanto  uma insistente e fina chuva  se precipitou pela madrugada afora. Fiquei com a impressão de que estava chovendo mais  do que a água que realmente estava caindo, tanto era o  barulho da chuva caindo nas folhas das árvores.

        Na manhã seguinte o dia clareou com um domingo molhado,  cheio de chuva, e o silêncio do acampamento só era quebrado pelo ruído das águas do igarapé Rocêgo que corria ao fundo.

          No meio da manhã, quando a chuva amainou, o rádio do cozinheiro espalhou no acampamento todo o som de um programa da voz da América para latino-américa. Logo depois, ao meio dia, surgiram fortes as ondas da rádio Rio-mar de Manaus.

        A noite chegou sem maiores intercorrências. O jantar foi servido para a chefia com generosas presas de mutún,  e para o resto dos homens, foi servida carne, também fresca,  de macaco. A turma se deliciou, quantos macacos foram abatidos para  o jantar, isso ninguém sabe.

          De barriga cheia dormimos uma noite tranqüila. Afinal, tínhamos que descansar, na manhã seguinte teríamos uma longa caminhada até o acampamento 1, que fica praticamente ao pé da Serra dos Pacaás Novos, nosso destino final.




HUGOALBERTO CUÉLLAR URIZAR
É Cineasta, Jornalista e Escritor, é diretor técnico
da Produtora Sudameris em Osasco-SP
sudamerisosasco@hotmail.com
 

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