Depois do grande susto
que nos deu a cobra da espécie Surucucú,
que se interpôs em nosso caminho, seguimos pelo varadouro, subindo e descendo
morros, até que começamos a ouvir as vozes de homens e risadas, o que em outras
palavras significava que estávamos chegando no acampamento 2.
Na verdade o acampamento 2, nada mais era do que um grande
descampado na mata, à margem do córrego Rocêgo, tributário do Belo Horizonte
Assim que chegamos foi um grande alvoroço humano, abraços e
boas vindas. O cozinheiro, Chico, era um maranhense todo desdentado, que nos recebeu com um
cafezinho quente e recém passado. A cozinha dele estava formada por três grandes
pedras que serviam de base para as panelas, e o fogo era feito com lenha fina, que o cozinheiro
havia buscado cuidadosamente, na mata.
Ao lado da cozinha, um tapiri feito de madeira roliça e
coberta com palhas, protegia uma mesa feita de pachuba, uma espécie de palmeira
muito própria da mata amazônica. Nessa mesa improvisada foi colocado o pão que
acabara de chegar, além de panelas, e outros utensílios de cozinha, que lá
estavam viradas para baixo.
Foi nesse momento que vários homens fizeram grande barulho num
poço do Córrego, localizado um pouco abaixo do acampamento. Era um banho comum,
um jogava água no outro e vice-versa, de forma que o barulho deles era grande.
A tarde caía rapidamente, de repente, surgiu do mato,
espingarda nas costas, o João Cruz, que trazia numa das maõs um Mutun que acabara
de abater. O Mutun é um galo grande, com crista igual à de um galo, de cor
preta e vermelha. Foi uma festa da
equipe toda, 40 homens festejaram
a caça, pois na verdade, a comida, de pelo menos para uma parte da equipe
estava garantida com carne fresca.
Na hora do jantar, antes da noite cair, foram servidos pratos contendo uma generosa porção de carne
assada de Mutún, para os chefes, e carne de macaco para o resto da equipe.
Como no dia seguinte começaríamos cedo nossa caminhada, todo mundo
lavou o seu prato e procurou o lugar de sua rede de dormir. Como de
hábito, no meio do acampamento uma fogueira foi acessa, para afastar eventuais
onças e outros animais da selva que pudessem atacar à noite.
Depois da meia noite, todos ficaram em silêncio e dormiram
profundamente, enquanto uma insistente e
fina chuva se precipitou pela madrugada
afora. Fiquei com a impressão de que estava chovendo mais do que a água que realmente estava caindo,
tanto era o barulho da chuva caindo nas
folhas das árvores.
Na manhã seguinte o dia clareou com um domingo molhado, cheio de chuva, e o silêncio do acampamento
só era quebrado pelo ruído das águas do igarapé Rocêgo que corria ao fundo.
No meio da manhã, quando a chuva amainou, o rádio do
cozinheiro espalhou no acampamento todo o som de um programa da voz da América
para latino-américa. Logo depois, ao meio dia, surgiram fortes as ondas da
rádio Rio-mar de Manaus.
A noite chegou sem maiores intercorrências. O jantar foi
servido para a chefia com generosas presas de mutún, e para o resto dos homens, foi servida carne,
também fresca, de macaco. A turma se
deliciou, quantos macacos foram abatidos para
o jantar, isso ninguém sabe.
De barriga cheia dormimos uma noite tranqüila. Afinal, tínhamos
que descansar, na manhã seguinte teríamos uma longa caminhada até o acampamento
1, que fica praticamente ao pé da Serra dos Pacaás Novos, nosso destino final.
HUGOALBERTO CUÉLLAR URIZAR
É Cineasta,
Jornalista e Escritor, é diretor técnico
da Produtora
Sudameris em Osasco-SP
sudamerisosasco@hotmail.com
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