O dia estava no ocaso.
A bordo dos dois rebocadores observava-se intenso movimento,
carregavam combustível e óleo para os
motores e alimentos para a tripulação e convidados na viagem rumo à Capital
Paraense.
Enquanto cada um dos dois rebocadores colocava num
alinhamento só, duas enormes balsas,
cheias de carretas com artigos da Zona Franca de Manaus, -- que seriam, depois, engatadas por
cavalinhos que estavam enfileirados esperando a chegada de nosso comboio no porto
de Belém--, ouvia-se nas margens do
embarcadouro de Manaus, o coaxar das rãs e o zumbido dos mosquitos.
O dia acabava, porém era necessário abastecer suficientemente
de combustível os motores dos dois
rebocadores, pois, só parariam de funcionar no destino final.
Quando ouvimos o ronco dos motores sendo ligados, sabíamos
que ali iniciávamos longa viagem sobre
as águas, rumo a Belém do Pará. Começamos
sobre as águas do Rio Negro, e logo, a 8 quilômetros adiante, acontecia o encontro com as águas do rio Solimões, desse ponto em diante,
majestoso, nos esperava o belo Rio Amazonas.
Em volume d'água,
certamente, o Rio Amazonas é o maior do planeta, e em comprimento, só é menor
que o Rio Nilo, ao NE do Continente africano. Na bacia do Amazonas, tudo
funciona em função do rio, e toda a população ribeirinha, as cidades, o
transporte e a alimentação de homens e animais , tudo enfim, depende do rio.
Depois que o manto negro da noite abaixou definitivamente
sobre nossas cabeças, já estávamos navegando sobre as águas do Rio Amazonas,
cujas margens recuaram para bem longe, e só adivinhávamos sua posição, graças à
fraca luz de algumas das casas ali construídas.
Nos preparamos para o jantar que foi feijão com macarrão e
pedaços de frango. Comemos avidamente,
nem tanto pela fome, mas porque aquela hora nada mais havia para fazer. O resto
de comida nos pratos, prontamente o cozinheiro raspou encima da água a
bombordo, local que de imediato atraiu peixes de todos os
tamanhos.
Como todos os quartos do nosso rebocador já estavam lotados,
me instalei no corredor, e depois deitei, pois nos esperava uma longa e
barulhenta noite nas águas do Rio-Mar, como é conhecido o Rio Amazonas.
Anestesiado pelo calor não sei quanto tempo dormi, de repente um forte impacto me jogou à frente
do corredor! Imediatamente o motor do rebocador parou. Nos instantes seguintes, um silêncio terrível se
apoderou do comboio, apenas cortado pelas vozes apressadas de alguns homens
que cuidavam das cargas das carretas.
O rebocador da frente, ao passar por um banco de areia freiou
de vez, e o de traz, onde nós viajávamos, bateu forte fazendo com que algumas
das carretas que estavam sendo transportadas sobre 12 pneus na parte
posterior, e duas travas tubulares na frente, escorregassem sobre a rede onde
dormia um dos motoristas, que morreu esmagado na hora!
Já era de madrugada e não fazíamos ideia de qual seria a jurisdição fluvial daquele lugar, se a do
Estado do Amazonas ou do Pará, e, quando
o dia clarear, deveríamos permanecer parados
no local, sem mexer em nada, mormente na carreta que caiu e matou uma pessoa. De
qualquer forma tínhamos que aguardar a chegada da polícia.
Quando, finalmente, os raios de luz iluminaram a floresta e
as águas do rio, apareceu, como num passe de mágica, tanta gente ribeirinha, de todas as idades,
vendendo comidas.
Como nada podíamos fazer, num barco rabo quente, levei muita
gente de uma margem para outra. Confesso agora, muitos anos depois, que nunca
antes tinha feito este trabalho.
Numa dessas viagens, talvez a última do dia, voltava ao
rebocador quando de repente, a água do rio levantou-se uma grande bolha em meio
à que apareceu um enorme peixe que voou
para fora da água e, projetando-se num arco, voltou a mergulhar no rio. Todos
os que vimos a cena ficamos mudos e estáticos, alguns passageiros, depois que
se recuperaram do susto, arriscaram a dizer que era um filhote de baleia, o que
não poderia ser, porque ainda estávamos viajando em água doce. Mas que deu um
tremendo de um susto, na verdade deu. Só de uma bocanhada este imenso peixe, certamente nos quebraria
todos os ossos.
Abstraindo esse susto, só ouvimos o ronco do motor sendo
ligado e o barulho da hélice afundando na água. Depois de vários dias,
voltaríamos a viajar. Aleluia!
Aos poucos fomos chegando a Santarém, uma grande cidade
ribeirinha amazonense, que não estava em
nosso roteiro, portanto, nosso comboio
passaria ao longo da cidade . E assim foi! Estávamos admirando de longe a
cidade, quando reparamos que sobre as águas, bem adiante, apareceram várias
canoas, cheias de jovens mulheres. No encontro com nosso comboio, elas jogaram
uma corda para amarrar a sua canoa no nosso rebocador, que abaixou a rotação do
motor.
Depois do deleite do amor à bordo, as mulheres que deram
tanto prazer aos marinheiros, voltaram à sua canoa com as burras cheias.
No outro dia, surgiu Belém, e foi lá que acabou nossa
inesquecível viagem!
HUGOALBERTO CUÉLLAR URIZAR
É Cineasta,
Jornalista e Escritor, é diretor técnico
da Produtora
Sudameris em Osasco-SP
sudamerisosasco@hotmail.com
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